Restaurando a Adoração

Luiz Fernando dos Santos
19/11/2020
Espiritualidade
Devocional

“Todos os anjos estavam de pé ao redor do trono, dos anciãos e dos quatro seres viventes. Eles se prostraram com o rosto em terra diante do trono e adoraram a Deus” (Apocalipse 7.11).

O último livro da Bíblia é basicamente um livro litúrgico. Não é exatamente um manual de adoração, não obstante, muitos dos elementos textuais podem e devem ser usados como subsídio para a adoração.

Mas, é inegável que o contexto do ‘Dia do Senhor’ enseja pensar que a visão de João se dá em um contexto de adoração cristã e muito do que ele vê, os ritmos, os movimentos corporais, as procissões, os coros angélicos, a abertura e leitura de um livro, tudo diz respeito ao culto que deve ser prestado ao Deus soberano sobre a história e sobre o cosmos.

Sei que muitos não concordam e pelas razões mais justificáveis e até biblicamente sustentáveis, mas, a tarefa principal da Igreja é a adoração. Isso é uma coisa é fácil de se comprovar por toda a estrutura do Antigo Testamento e uma leitura atenta do Novo Testamento nos faz conhecer o que o Pai procura na missão do Filho: “No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". (João 4:23,24 NVI); ou como nessa versão mais contemporânea: “Mas, chegará o momento, na verdade já chegou, em que não importa como vocês são chamados ou onde irão adorar. O que conta para Deus é quem você é e como vive. Seu culto deve envolver o seu espírito na busca da verdade. É este tipo de gente que o Pai está procurando: aquele que é simples e honesto na presença dele, em seu culto. Deus é Espírito, do mais íntimo do ser” (Jo 4.23-24 Mensagem).

Penso que os que não concordam com esta afirmação sobre a principal tarefa da igreja, agem assim, porque não concordam em reduzir o culto, a adoração, ao culto litúrgico realizado no ajuntamento dominical, e nisso, estão cobertos de razão.

Entretanto, essa parte da vida cristã, o culto, é justamente o que dá legitimidade e consistência a todos as outras obras a serem realizadas, tão bem fundamento pelo próprio Jesus: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus" (Mt 5.16). Em todas a áreas da vida humana a adoração ou a idolatria estão visceralmente envolvidas. No fundo, é o culto que molda a comunidade humana em sua resposta ao Deus vivo, como ensina Eugene Peterson. Um outro autor ensina que no fim das contas, o adorador toma as feições e acaba se parecendo com aquilo que adora.

Portanto, o culto é a questão mais essencial da vida e não apenas para a Igreja. Não existe um tempo propício ao culto. Nossa sociedade e o mundo em que vivemos são hostis ao culto exclusivo a Deus. O Diabo odeia o culto e parte de sua missão é destruí-lo, deturpá-lo, esvaziá-lo de seu sentido teocêntrico. Quando lemos o livro do Apocalipse fica claro que o culto exclusivo a Deus deve ser prestado com integridade, com devoção, com alegria mesmo nas condições mais adversas, mais absurdas e que possam custar, inclusive, o martírio. Não foram poucos os que pagaram com a própria vida o hábito de cultuar o Senhor e isso acontece ainda hoje.

Todavia, em nossos dias não é só o mundo, as pessoas de fora da Aliança, que não gostam de cultuar. Pasmem, a igreja parece ter perdido o desejo de adorar, de pagar o preço da adoração. Além daqueles aspectos já tratados em outras ocasiões, como o de se pensar em um culto para os adoradores, para que estes se sintam confortáveis e vejam atendidas as suas necessidades estéticas ou o culto amigável, aquele para cativar o pecador de modo que ele encontre pontos de contatos culturais com a igreja e de alguma maneira, sinta-se bem-vindo no recinto, a igreja parece refém de um culto para a defesa ou o ataque de ideologias político-dogmáticas. Isto só acontece porque os púlpitos têm se transformado numa arena de embates culturais e em uma abordagem bíblica que não a têm como Palavra de Deus revelada, mas o resultado das percepções teológicas de um mundo que já não mais existe, de uma época que ficou para traz com os seus valores e que por isso, ela precisa ser atualizada de alguma maneira, para continuar tendo relevância na igreja e para o mundo.

Quando isso acontece, os homens deixam o Evangelho de lado, não o pregam mais com audácia e plena confiança e passam a se dedicar a uma causa nobre, qualquer uma, e assim esvaziam o culto, quer o litúrgico, quer o da vida.

O Apocalipse nos ensina que nenhuma outra fidelidade pode ser incondicional, a não ser aquela prestada a Deus. Nenhuma outra obediência pode ser absoluta, exceto a que se deve ao Salvador. Nenhuma busca pela verdade pode ser encetada, quando não guiada pelo Espírito. Não importam quão poderosos sejam os que odeiam o culto. Não faz diferença se parecem no tempo da história obter alguma vantagem sobre a comunidade dos adoradores. Não devemos nos impressionar com a pompa com que se cultuam os ídolos deste mundo em trevas.

A única realidade consistente e eterna é o culto prestado ao Deus vivo e verdadeiro. Culto que começa em casa, chega ao ápice humano no templo, se espalha pela vida e se eterniza na glória. Não deixe de ocupar o seu lugar na adoração aqui, para não ser preterido lá, custe o que custar. Adore!

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.