O imperativo da santidade

Luiz Fernando dos Santos
27/6/2019
Devocional

“Pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.16).

A santidade não é uma alternativa da vida cristã, não é uma opção a um tipo determinado de cristianismo. Não é possível pensar em seguir a Cristo em termos de cristianismo ético, moralidade cristã, visão de mundo (cosmovisão), filosofia cristã, culto cristão e etc. De fato, todas essas coisas dizem respeito a uma realidade do seguir a Cristo que açambarca toda a existência. Os que ouviram e receberam o Evangelho e colocam a sua fé exclusivamente em Cristo com o passar do tempo, na medida em que assimilam as preciosas lições do Mestre, passam a produzir em suas vidas atitudes compatíveis com as verdades apreendidas, e assim, noções de justiça, trato respeitoso com os divergentes, transparência e probidade nos seus negócios e etc., passam a sofrer tais influências. O mesmo se dá no campo da moralidade, sobretudo nas questões relativas ao casamento, sexualidade, educação dos filhos e dos ‘bons costumes’ em geral. Também uma visão de mundo sem maniqueísmos e fatalismos ou sem o aprisionamento acrítico por ideologias falaciosas, podem de verdade passar a fazer parte de uma leitura da realidade onde Cristo esteja reivindicando senhorio.

É próprio do seguimento de Cristo e do estudo acurado do Evangelho a formação de um sistema de pensamentos e virtudes, realmente diferenciado, quando comparado às inconsistências e as incongruências de muitas escolas filosóficas. Também possível a existência e a participação em um culto dito cristão porque nele se cantam músicas que se referem, não raras vezes, de maneira superficial a Deus e com uma grande carga de projeções antropocêntricas.

Mas, infelizmente, embora a Bíblia seja, nesse contexto, lida e pregada, a mensagem que emerge não glorifica a Deus, mas exalta o homem e as suas pretensas possibilidades. O que torna todas essas realidades citadas e outras tantas que formam a natureza da vida com Cristo é a santidade da vida. Santidade é aquela obra realizada na alma do que crê e que deve, sob a condução do Espírito, usando os meios de graça, a busca da conformação da vida a Jesus Cristo.

O fim do Evangelho não é tornar-nos homens melhores e mais ajustados. Homens reformados moral e socialmente. O fim do Evangelho, do discipulado propriamente dito, é a nossa conformação a Jesus Cristo, o que significa, a harmonia da nossa vontade a dele, que era obedecer ao Pai. A simetria do nos agir ético com o dele que nada quis fazer que não tive outro escopo, a não ser a glória do Pai.

Santidade significa uma moralidade que aponte para a obra redentora e purificadora de Cristo, uma vida que aponte para a realidade do calvário onde as nossas paixões devem ser também crucificadas, sacrificadas para que a união de nossa vontade à vontade de Deus nos leve a amar o que Ele ama, desejar o que Ele estabelece e odiar o que Ele repudia. E isso, no que diz respeito ao nosso corpo, a nossa sexualidade, na mordomia dos bens da criação e por aí vai. Santidade também diz respeito na convergência de nossos corações para a contemplação da beleza de Cristo, o amado de nossas almas. Um coração desafeiçoado não pode oferecer um culto agradável. Um coração pouco afetuoso não demonstra admiração pela obra da cruz, não demonstra humilhada perplexidade pelos sofrimentos de Cristo em nosso lugar e tampouco está agradecido e satisfeito por tudo que lhe foi oferecido de graça e pela graça.

A santidade de vida é a única coisa capaz de tornar o Senhor aprazível, amorável, gracioso e por assim dizer, com toda limitação dessa expressão, ‘feliz’ com a condição do seu povo. E é sempre bom lembrar: “...sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).