Jesus e o discipulador da mulher

Luiz Fernando dos Santos
14/5/2019
Devocional

“Na Galileia elas tinham seguido e servido a Jesus. Muitas outras mulheres que tinham subido com ele para Jerusalém também estavam ali” (Mc 15.41)

O reconhecimento do valor da mulher por Jesus antecede mesmo a sua vida terrena, pelo menos nos Evangelhos. Antes de escrever sobre a concepção e o nascimento do Senhor, o Evangelista Mateus narra a genealogia de Jesus.

Precisamente nessa genealogia é que o valor da mulher começa a ser reconhecido na vida de Cristo, pois além de ser bastante incomum para a época dar qualquer relevância a ascendência feminina, os nomes ali registrados chegam a causar algum desconforto se considerado a origem ou a reputação daquelas mulheres. Todavia, seus nomes figuram lá como ancestrais humanas do Rei Jesus. Raabe, Tamar e Rute, representam aqui a admissão graciosa das mulheres na vida de Jesus, admissão que tem a ver com perdão, reconciliação, aceitação, amor incondicional.

Já em sua vida e ministério terrenos, desde cedo, Jesus honrou as mulheres começando por ser submisso a sua mãe na vida doméstica de Nazaré (Lc 2.51).

São muitas as mulheres que cruzaram o caminho de Jesus durante a sua peregrinação nessa vida, e a todas tratou com dignidade: a viúva de Naim (Lc 7. 12-13 ); Maria Madalena (Mc 16.9); a Samaritana (Jo 4. 7-15); a mulher na casa de Simão (Lc 7.44 ) a mulher Sírio-Fenícia (Mc 7.26 ); a mulher que sofria de hemorragia (Lc 8.43); as irmãs do lar de Betânia, Marta e Maria (Lc 10). Todas essas, nos mais variados contextos existenciais, foram acolhidas por Jesus e cuidadas por ele.

Entretanto há um fato que passa quase despercebido por muitos, embora seja um dos textos mais conhecidos, o episódio na sala daquela casa em Betânia: “Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dele, perguntou: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude! "Respondeu o Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada." (Lc 10.38-42)

Como Jesus valorizou a figura da mulher nesse episódio? Admitindo que ela fosse considerada discípula! Sentar-se aos pés do mestre para aprender era um privilégio basicamente masculino naqueles dias. Não que às mulheres fosse negada a educação religiosa, outros meios eram empregados para tal. Mas, o discipulado sob os cuidados de um ‘Rabi’ era coisa para homens e Jesus ao permitir a ‘posição’ desejada e assumida por Maria, quebra um paradigma.

O discipulado, ser um discípulo, é a maior honraria e o mais importante ‘posto’ na Igreja e no Reino de Deus. O gesto de Jesus indica claramente que as mulheres foram investidas de igual dignidade no Reino, não devem ser impedidas de aprender aos pés do Mestre, não podem ser preteridas ou deixadas em segundo plano quando o assunto diz respeito a Cristo, seu plano, seu Evangelho, sua Igreja e sua missão.

De alguma maneira Maria representa cada mulher que recebe Jesus em sua vida: “escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”. Não podemos tirar essa ‘melhor parte’, a mulher tem muito a oferecer na missão da igreja e não porque sejam a maioria, embora isso seja um fato. Mas, porque são discípulas e como discípulas, têm o privilégio de dramatizar a vida de Jesus diante do mundo, na vida doméstica, na educação cristã, na reflexão teológica, nas missões, na vida profissional e sobretudo, na sua visão de mundo sob a perspectiva feminina, que a tudo preenche com graça e ternura. Mas, há um detalhe que não podemos deixar escapar. Marta também é uma discípula, também serve o Senhor. Mais tarde ela fará bela profissão de fé no Senhor Jesus (Jo 11.20-27), mas andava preocupada com questões que podiam esperar. O que todo discípulo não pode deixar para depois é o tempo dedicado em ouvir, acolher e encantar-se pela pessoa Jesus.

Cristo valoriza a mulher não porque lhe dá alguma coisa importante para fazer, mas a oportunidade de ser a coisa mais importante da existência humana, sua discípula amada.