Conversão: Um estado permanente!

Luiz Fernando dos Santos
4/4/2019
Hermenêutica

“Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

A Conversão é um ato poderoso da graça de Deus que salva definitivamente o pecador. Uma ação do Espírito Santo no coração e na mente daquele que ouve o Evangelho. O Espírito Santo leva o pecador a uma profunda e desesperada convicção de pecado e à rendição incondicional ao Senhorio de Jesus Cristo. A partir desse momento a natureza do homem convertido é transformada, bem como as íntimas estruturas do seu coração. Agora, como nova criatura pode desejar, amar e sentir imenso prazer em fazer a vontade de Deus. Entretanto, esse ato soberano e sobrenatural não é único e definitivo no processo da salvação e precisa ser desenvolvido, aprofundado e aperfeiçoado ao longo da caminhada com Cristo na Igreja. Esse processo é amplamente ordenado nas Sagradas Escrituras e não observar argumentando incapacidade, não corresponde à verdade da Palavra de Deus:

“Seu divino poder nos deu todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Por intermédio destas ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça. Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos” (2 Pe 1.3-8).

O Senhor nos doou todas as coisas de que necessitamos, deu-nos grandiosas promessas para que o nosso progresso na fé fosse possível e evidente a todos, para o nosso proveito espiritual e o cumprimento de nossa missão no mundo. Existe sempre o perigo de alguém sentir-se convertido e de fato não ser. Pode mesmo a vir experimentar algumas bênçãos do Espírito Santo em sua vida, mediante a companhia dos santos, a emoção vivida em um culto alegre e contagiante ou a reforma moral de algum vício. Todavia, esta conversão psicológica não demora muito pode revelar a sua inconsistência o que traz grande tristeza e confusão para a pessoa e também para a comunidade. São aqueles que de alguma maneira são retratados por João:

“Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos” (1Jo 2.19).

A característica mais marcante de uma conversão genuína é o seu estado permanente, ou seja, um processo que continua enquanto durar essa caminhada terrena. O discípulo autêntico é aquele que se esforça sob a influência da graça e no uso dos meios de graça (Palavra, oração, Sacramentos, frequência assídua no ajuntamento solene e etc.), para desenvolver o fruto do Espírito, ser frutuoso na obra do Senhor, ser zeloso em Boas Obras, amar os irmãos e ter compaixão pelos pecadores. Uma conversão genuína é aquela que busca todos os dias a dessemelhança com o velho homem, cuja natureza infectada infelizmente ainda se faz presente mesmo no coração santificado, e deseja dia a dia conformar-se a imagem de Jesus Cristo. Católicos, Anglicanos e alguns cristãos reformados iniciaram na quarta-feira de cinzas o tempo da quaresma. Um período especial dedicado à purificação do coração para a digna celebração da Páscoa. Nós, Presbiterianos não observamos esse tempo litúrgico tendo em vista que esses dias possam ser privilegiados para a santificação pessoal e comunitária. Em certo sentido concordamos com Martinho Lutero que toda a vida cristã deveria ser uma grande e ininterrupta quaresma, uma luta constante contra o pecado e a vileza do nosso coração. Entretanto, entendemos que esse período pode ser se grande utilidade didática para que voltemos às Sagradas Escrituras e nos certifiquemos do plano da redenção e de seu pleno cumprimento na cruz e na Páscoa da Ressurreição. A Páscoa nos recorda que a cruz exige nada menos que a vida santa daqueles que nela foram comprados.