Outra visão da mesma história

Ricardo Barbosa
24/12/2018
Hermenêutica

 

O soar da sétima trombeta (Ap. 11:15-19) desperta o mundo sonolento com uma gloriosa declaração: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo sempre”.

Os vinte e quatro anciãos que se encontram diante de Deus, prostram-se sobre o seu rosto e adoram a Deus e, enquanto o adoram é aberta uma janela no céu por onde contemplam o santuário de Deus e a arca da aliança, que representam a presença de Deus e o pacto que ele fez com o seu povo de ser o seu Deus  eternamente. Diante da glória da revelação, João ouve um estrondo de relâmpagos, vozes, trovões e terremotos e um novo cenário é aberto.

Através da janela aberta no céu, João contempla uma mulher com um vestido que brilha como o sol do meio dia, de pé sobre a lua e com uma coroa de doze estrelas em sua cabeça. Ela está grávida e prestes a dar à luz um filho. No mesmo cenário celeste, João vê um grande dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres que se coloca diante da mulher grávida aguardando o nascimento do seu filho para devorá-lo quando nascesse. A criança nasce e o dragão ataca com toda a fúria para devorar a criança. Inexplicavelmente a criança é salva elevada para um lugar seguro junto ao trono de Deus e a mãe também é salva elevada para um lugar preparado por Deus no deserto. Esta criança é descrita por João como aquela que irá governar todas as nações com justiça.

Diante do fracasso, o dragão e seus demônios travam uma luta cósmica com Miguel e seus anjos. Depois de uma batalha violenta o dragão, cujo nome é diabo e Satanás, o grande sedutor e enganador, é expulso do céu junto com seus demônios e atirado para a terra. João ouve uma voz forte do céu que diz: “Agora veio a salvação, o poder e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo,pois foi lançado para fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite. Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavrado testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida. Portanto,celebrem-no ó céus, e o que neles habitam! Mas, ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo” (12:10-12).

Em Apocalipse João descreve a mesma história de natal que Mateus e Lucas descrevem, só que de um ângulo diferente. A mesma história que conhecemos tão bem com Herodes, César Augusto, manjedoura, animais, magos e pastores, José,Maria e anjos cantando no céu é agora contada como uma realidade transcendente que deixa a manjedoura de Belém e contempla o que estava acontecendo nos lugares celestiais. Como esta criança poderia sobreviver à fúria de Herodes e sua ordem para que todos os meninos de Belém com menos de dois anos fossem executados? Como sobreviver quando o diabo e seus demônios se lançam contra ela para destruí-la? Como sobreviver num mundo cheio de maldade e traição? Mas ela sobrevive e o governo de Deus é estabelecido e a redenção é realizada.

Esta é outra história do mesmo natal. Por algum momento, deixamos o presépio bucólico de Belém e entramos num outro cenário onde podemos compreender melhor o que estava acontecendo. Não se trata apenas da sobrevivência da criança de Belém, mas daquilo que ela estava realizando. Os poderes que se levantaram contra ela e que foram vencidos na cruz, permanecem atuando no mesmo mundo resistindo ao governo justo do Filho de Deus. No natal celebramos a encarnação, Deus se humilhando e entrando em nosso mundo. Na páscoa celebramos a triunfo da redenção na morte de Jesus no Calvário, sua ressurreição dentre os mortos no terceiro dia e a ascensão ao trono no céu. No fim, contemplaremos o perfeito e completo reino de nosso Senhor, e ele reinará pelos séculos dos séculos. Que neste tempo do advento possamos nos alegrar porque “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo sempre”.