Oração e a Reforma da Igreja

Luiz Fernando dos Santos
12/12/2018
Hermenêutica

“Responderá à oração dos desamparados; as suas súplicas não desprezará” (Sl 102.17)

“Escuta a minha oração, Senhor; atenta para a minha súplica ” (Sl 86.6)

Um dos aspectos mais importantes e menos enfatizados quando estudamos a Reforma Protestante é o lugar da oração na vida e no ministério dos reformadores. Lutero era um homem dedicado a longos períodos de oração. Quando monge agostiniano, além dos ofícios próprios estabelecidos por sua tradição religiosa, ao menos sete ofícios ao longo do dia, mais a celebração da eucaristia, seguramente Lutero cumpria outros exercícios devocionais. Terços, meditações, visitas a lugares sagrados e orações particulares faziam parte da rotina piedosa do jovem monge. Uma vez convertido ao Evangelho e já no auge do movimento reformador, Lutero dedicava-se à oração para melhor organizar a sua agenda, aguentar as muitas viagens, as horas de debates, estudos e emprego de energia na obra de trazer a igreja para mais perto da Bíblia.

O mesmo se pode dizer do introspectivo Calvino. Conquanto não fosse necessariamente um eclesiástico, posto que era um estudante universitário e depois um advogado, Calvino parece ter vivido á sombra de um palácio episcopal ou casa paroquial. Seus pais possuíam relações estreitas com a igreja paroquial de sua cidade e frequentavam os ofícios religiosos, de sorte que Calvino sempre teve algum contato com a devoção e a piedade. Arrebatado pelos ventos da reforma protestante, sua leitura das Escrituras e sua ortodoxia teológica desaguaram numa intensa vida de piedade. Calvino ensinava que o fim próprio e natural da Teologia Bíblica é a adoração e uma vida piedosa para com Deus num coração puro . Não por nada, a oração ocupe em sua obra magna, “ As Institutas ”, um espaço mais que considerável, chegando mesmo a ser como que o coração de seu labor teológico.

Um discípulo de Calvino levou a oração muito a sério em sua missão de pregar o Evangelho e reformar a Igreja e levar uma nação inteira a Cristo. Seu nome é John Knox. Este talentoso pregador e hábil pastor era também um fervoroso orante. Suas longas horas passadas em oração e a maneira clamorosa, ‘desesperada` e eloquente como se dirigia a Deus impressionou muitíssimo a rainha da Inglaterra que chegou a dizer: “ Temo mais a oração de John Knox do que todos os canhões da Escócia ”. Todos os dias esse gigante da fé clamava apaixonadamente aos céus: “ Dá-me a Escócia para Cristo ou eu morro ”, essa sentida oração impulsionou a obra de evangelização no Reino (nem sempre) Unido daqueles dias.

Esses exemplos citados, ainda que muito superficialmente, nos ajudam a entender como a oração foi um instrumento importante na Reforma da Igreja. Ela deu discernimento e direção aos líderes. Fez com que suas mentes e corações recebessem a Palavra de Deus, a entendessem e a pusessem em prática. Proporcionou-lhes capacidade para falar com desassombro e clareza. Empoderou-os para a uma pregação irresistível. Fortificou o vigor físico e a saúde deles para suportarem as longas viagens e os intensos trabalhos, os encheu de audácia, resistência, coragem contra os inimigos e levou-os aos consolo e conforto quando a perseguição e a morte vieram visitá-los. Sem a oração não teriam avançado um milímetro, não teriam reformado nem as próprias vidas.

Que o Senhor nos dê um espírito de oração.