Há três lembranças vívidas de minha infância que marcaram profundamente minha vida espiritual: as orações da minha mãe, os hinos cantados por ela ou tocados na vitrola e sua leitura dos Salmos para nós, encorajando-nos a memorizá-los.

Minha mãe me ensinou a orar. Em meio às dificuldades da vida, ela curvava seus joelhos ao lado da cama e clamava a Deus em voz alta, muitas vezes com lágrimas escorrendo pela face. Suas orações causavam uma profunda impressão em mim. Mesmo como criança eu sabia que aqueles momentos de oração eram um território sagrado, um momento de encontro íntimo com Deus. Ainda que suas orações não traziam mudanças imediatas nas circunstâncias que enfrentávamos, eu percebia que o ato de orar afetava minha mãe e a todos nós. Ela se levantava mudada após orar. Sua fé era renovada. Isso transformava o ambiente em nossa casa e nos dava uma disposição nova para enfrentar os problemas e desafios.

Quando perguntado sobre por que orava por sua esposa enquanto ela lutava com um câncer em fase terminal, C.S. Lewis respondeu: “Oro porque não posso deixar de orar. Oro porque estou desamparado. Oro porque a necessidade flui de mim o tempo todo, acordado e dormindo. A oração não muda Deus. Ela muda a mim.”

Embora minha mãe nunca havia lido um livro de C.S. Lewis, ela orava de modo igual, sabendo que não podia deixar de orar pois a oração mudava sua vida e sua visão da realidade.

Se as orações de minha mãe me ensinaram a importância de buscar a face de Deus diante das dificuldades para renovar as forças e mudar o ânimo, seus hinos cantados diariamente enquanto ela fazia as tarefas da casa, me legaram uma linguagem do louvor e da gratidão. Através dos hinos, minha mãe declara a grandeza de Deus, seu amor, sua fidelidade e sua salvação. As melodias simples eram facilmente assimiladas por nós e as palavras ficaram gravadas em nossa memória para sempre. No decorrer dos anos, ainda que meu gosto musical tenha expandido incluindo muitos estilos e expressões contemporâneas, aqueles velhos hinos continuam me acompanhando na jornada espiritual. Encontro neles uma linguagem de louvor e gratidão a Deus. Frequentemente me pego cantarolando-os, principalmente em tempos de dificuldade.

As orações e os hinos de minha mãe me ensinaram a importância da de orar e louvar, mas foi seu encorajamento para ler e memorizar os Salmos que me ensinaram a amar a Palavra de Deus e encontrar na Bíblia a linguagem da fé e da esperança. Começando pelos Salmos, aprendi que o Deus da Bíblia é um Deus que se relaciona com o mundo que ele criou. Na linguagem dos salmos, Deus que se revela como rei, pastor e pai, imagens que transmitem seu governo e direção, assim como seu cuidado e proteção para nossas vidas. Os Salmos fortaleceram minha confiança em Deus e na Sua Palavra, levando-me a leitura, meditação e estudo de toda a Bíblia.

Sempre serei grato a Deus pelo legado espiritual deixado por minha mãe. A oração, o louvor e a leitura dos Salmos é uma disciplina espiritual essencial para sustentar nossa fé e esperança em tempos de crise como este que estamos vivendo.