Evidências da Ressurreição de Cristo

Valdinei Ferreira
18/4/2019
História da Igreja

Crenças e visões culturais não costumam mudar da noite para o dia. Normalmente são necessários anos e anos de debates para que alguma alteração seja percebida. Entretanto, no caso do cristianismo, crenças e costumes seculares do judaísmo foram alterados num prazo curtíssimo de semanas e meses. Os cristãos adotaram, após a ressurreiçãode Jesus, um conjunto de crenças e práticas não somente impensáveis, mas abertamente contrárias às crenças judaicas e greco-romanas. Sob o ponto de vista de um grupo religioso que busca aceitação social e credibilidade para sua mensagem, a atitude dos primeiros cristãos revelava-se completamente contraproducente. Todavia, sob a perspectiva histórica, esses fatos funcionam como evidências da ressurreição de Cristo. Vejamos:

* Dia de adoração: o domingo e não mais o sábado.
É verdade que o abandono do sábado não foi imediato, mas, imediatamente, os cristãos começaram a se reunir no primeiro dia da semana, o domingo. A razão para isso: Jesus ressuscitou no domingo.
* Mulheres como testemunhas da ressurreição.
O testemunho de mulheres não era uma prova admissível diante de um tribunal judaico, mas os cristãos não esconderam que as primeiras testemunhas da ressurreição eram mulheres. Se estivessem trabalhando com uma fraude em busca de aceitação, certamente este seria um fato a ser ocultado.
* Desprezo de romanos e gregos pela ressurreição do corpo.
Tanto gregos quanto romanos valorizavam a vida após a morte, mas desprezavam a vida corporal. Tal desprezo aparece, por exemplo, no relato registrado sobre a reação dos atenienses ao sermão do apóstolo Paulo sobre a ressurreição de Jesus: “Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião” (Atos 17.32).
* Modificação da crença judaica da ressurreição somente no juízo final.
Se gregos e romanos não estavam interessados em ressurreição, os judeus sustentavam a crença na ressurreição. Entretanto, afirmar que alguém havia ressuscitado antes do juízo final, como faziam os cristãos a respeito de Jesus, não fazia o menor sentido dentro da estrutura do pensamento judaico ortodoxo.
* Do monoteísmo judaico ao monoteísmo trinitário cristão.
Outra modificação de enorme importância foi a adoração que passou a ser prestada a Jesus após sua ressurreição. Muitos judeus foram martirizados por se recusarem a adorar reis e imagens. O monoteísmo e a própria identidade judaica se confundiam. Cristãos, oriundos do monoteísmo judaico, passaram a adorar Jesus como Deus-filho e aceitaram as reivindicações que o próprio Jesus fizera de sua natureza divina: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30); “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai” (João 14.9). O culto à pessoa de Jesus não pode ser explicado por nenhum outro fato senão pela ressurreição.
* O surgimento da igreja.
O primeiro século testemunhou o aparecimento de muitos líderes de movimentos messiânicos. Tais líderes foram executados e seus seguidores rapidamente se dispersaram. Em nenhum desses movimentos houve qualquer registro de seguidores dizendo que o líder deles havia ressuscitado dentre os mortos. A razão era simples: como vimos anteriormente, a esperança judaica para a ressurreição era coletiva e reservada para o fim dos tempos. A reunião do pequeno grupo de discípulos que havia se dispersado após a prisão e a morte de Jesus e a transformação que se seguiu precisam de algum acontecimento que possam explicá-las. A ressurreição de Jesus é a resposta.

A natureza contracultural do anúncio da ressurreição pode ser resumida nas observações perspicazes de dois autores contemporâneos: "Os relatos da ressurreição no Novo Testamento eram demasiado problemáticos para serem inventados" (Keller, p.174) e "Afirmar que o líder original revivera não constituía uma opção. A menos, é claro, que fosse verdade" (Wright, p. 63).

A ressurreição continuará sendo sempre um mistério contemplado pelos olhos da fé, mas isso não significa ignorar evidências tão fortes da sua historicidade, como estas mencionadas acima. Feliz Páscoa!