Algumas Considerações sobre Pregação Expositiva

Jubal Gonçalves
26/11/2019
Homilética

O sermão expositivo deve ser consequência do trabalho exegético. A Pregação Expositiva é fruto do esmero do pregador em extrair o ensino do texto inspirado. É impossível pregar expositivamente, de modo correto, sem trabalho árduo. Spurgeon era de opinião que “o pregador tem urgente necessidade de estudar, pois o mestre de outros precisa instruir-se; e que subir ao púlpito normalmente despreparado é presunção imperdoável”. (1)

Mas antes de se argumentar sobre a importância da Pregação Expositiva é necessário conceituá-la. Há quem classifique os sermões em tópicos, textuais e expositivos. O sermão tópico seria aquele fundamentado em um tema, tendo suas divisões principais baseadas em textos diversos. O sermão textual teria suas divisões principais baseadas em um só texto, cuja perícope não deve ser maior do que quatro versos.

Já a mensagem expositiva estaria baseada em um texto com mais de quatro versos. (2)

Segundo Greidanus, a expressão “pregação textual” surgiu para fazer distinção entre a pregação bíblica e uma pregação tópica que não fosse fruto de um trabalho exegético; a intenção da expressão nunca foi a de limitar o tamanho da perícope do texto estudado. Entretanto, a partir de um entendimento errôneo da expressão surgiu essa classificação de sermões mencionada acima.

Entendo que classificar sermões do modo acima apresentado pode trazer mais dificuldades ao pregador do que benefícios, pois ao se dar ênfase ao secundário esquece-se do principal. O essencial é que toda mensagem deve ser fruto de oração e labuta. Todo sermão deve refletir a proposição do texto sagrado.

Para isso o pregador precisa entender a perícope, o contexto, a estrutura e as palavras chaves do texto. Ou seja, toda mensagem deve ser expositiva, no sentido de que toda pregação deve ser exposição fiel do texto inspirado, independente do estilo do pregador. Por exemplo, se um pregador quiser apresentar uma mensagem considerada tópica precisará fazer exegese de cada texto apresentado em suas divisões. Um sermão é expositivo independentemente da extensão da sua perícope. (3)

Ainda, conceituando Pregação Expositiva, ela não pode ser confundida com homilia. A confusão é feita porque quando é dito que os pregadores do século 16 pregavam expositivamente menciona-se que eles pregavam verso por verso. Mas embora a homilia tanto quanto a Pregação Expositiva façam uso da exposiçãoverso por verso, esta última o faz sem negligenciar a estrutura exegética, o contexto e a perícope do texto. (4)

Anglada afirma que os reformadores e também os puritanos pregavam sequencialmente para não correrem o risco de pregarem seus textos prediletos, ou textos que apresentassem menores dificuldades. (5)

W. C. Ferreira escreveu, acerca do uso que Calvino fazia de sermões expositivos, o seguinte: “Em muitos casos, Calvino é um perfeito pregador expositivo, pois toma o texto e vai analisando e aplicando consecutivamente. Alguns dos seus sermões seriam modelos de Pregação Expositiva”. (6)

Infelizmente, devido ao relativismo da cultura do mundo contemporâneo, a Pregação Expositiva não tem sido praticada em boa parte dos púlpitos evangélicos.

Entretanto, as incertezas do mundo atual carecem de uma palavra de autoridade, embora a sociedade não admita isso. Paulo não hesitou em pregar a autoridade de Deus. O apóstolo elogiou os crentes tessalonicenses porque aceitaram sua mensagem “... não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a Palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1 Ts 2.13).

A autoridade das Escrituras, considerada é outro forte argumento em prol da Pregação Expositiva. O pregador deve ser fiel ao texto, expondo nada mais que o ensino do mesmo, pois o Espírito age nos corações através do texto sagrado e sua exposição fiel, e não a partir de argumentos meramente humanos.

Alguns estudiosos da arte de pregar associa Pregação Expositiva com pregar sequencialmente um livro ou carta das Escrituras, admitindo escolher as perícopes mais relevantes para a realidade de seus ouvintes.

Paulo Anglada enumera algumas vantagens em se desse modo, a saber:

1) Economiza o tempo do pregador;

2) É o método mais natural e razoável com relação a qualquer texto;

3) Tende a produzir maior fidelidade ao texto;

4) Propicia mensagens não meramente textuais, mas contextuais;

5) Permite a pregação de todo o conselho de Deus, fornecendo equilíbrio à pregação;

6) Favorece o crescimento do pregador e dos ouvintes na graça e no conhecimento da Bíblia. (7)

E embora não se possa limitar Pregação Expositiva a se expor toda perícope ou pregar em série, não há dúvidas de que quando se observa esses aspectos é mais fácil ser fiel na exposição, pregando todo o conselho de Deus.

Sejamos fiéis ao texto sagrado. Estudemos com esmero as Escrituras e proclamemos poderosamente a partir do estudo da oração a mensagem que transforma e edifica.

(1) SPURGEON, Charles, H. Lições aos Meus Alunos vol.1. São Paulo: PES, 1990, pp. .4-5.

(2) BRAGA, James. Como Preparar Mensagens Bíblicas. São Paulo: Editora Vida, 1997, pp. 17, 30 e 47.

(3) GREIDANUS, Sidney. Pregando a Cristo a partir do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 263.

(4) Ibid., p. 263.

(5) ANGLADA, Paulo. Introdução à Pregação Reformada. Ananindeua: Knox Publicações, 2005, p. 148.

(6) FERREIRA, W.C. op.cit., p. 164.

(7) ANGLADA, S. Introdução à Pregação Reformada. Ananindeua: Knox Publicações, 2005, p.146-149.