Adolescentes e a comunidade da fé no pós-pandemia
Os últimos meses tem sido de muitas conversas, palestras e até cursos sobre os desafios da igreja no pós-pandemia. Igrejas e ministérios por todo o Brasil estão retomando suas atividades presenciais e precisam fazer uma leitura muito cuidadosa do contexto atual porque muita coisa mudou. Entretanto, muitas outras coisas permanecem e devemos tê-las como base para essa nova etapa da nossa estória.
Quer seja durante ou após a pandemia, a nossa missão permanece a mesma porque ela não é apenas uma atividade da comunidade da fé. A missão está fundamentada no propósito de Deus para a redenção da humanidade. Deus convida a igreja a juntar-se a Ele nessa missão. O modelo divino de missão não é atrair e sim ir, pois Deus enviou seu Filho e o Espírito Santo para cumprirem sua missão entre nós. Jesus, o Filho de Deus, veio para viver entre as pessoas, na cultura delas, quando ainda eram pecadoras.
Portanto, a missão de Deus com as novas gerações é para a Salvação e o discipulado. Não é uma programação! Uma igreja se junta a Deus na sua missão com as novas gerações quando genuinamente identifica e cria afinidade com os jovens que quer alcançar, respeitando a cultura deles.
Em meio a tudo isso que temos passado, os adolescentes continuaram vivendo essa etapa tão importante de suas vidas, com os questionamentos tão característicos dessa faixa etária, relativos à identidade, pertencimento e propósito.
Adolescentes continuam a se perguntar “Quem eu sou?”. Essa pergunta está relacionada à questão da identidade, a como eles se veem. Vivemos num mundo que nos julga e nos considera pelo sucesso que temos, pelo que realizamos e pelo que aparentamos e mostramos, principalmente nas redes sociais. E parece que nunca somos suficientemente bons ou não conseguimos atender as expectativas dos outros ao nosso redor. Isso tem sido fonte de frustração, tristeza, depressão e suas graves consequências principalmente para os jovens.
Nós da comunidade da fé deixamos de exercer uma influência positiva na formação da identidade deles porque falhamos na tarefa de ensinar a eles que a identidade do cristão está em Cristo e que Cristo nos torna mais que suficientes. Somos mais que suficientes não por causa do que fazemos ou realizamos, mas porque Deus nos criou e através de Cristo nos redimiu em amor para um propósito maior.
Nessa fase em que muitos se sentem rejeitados na escola, no trabalho, no grupo e até na família, eles precisam saber que são filhos e filhas valiosos para Deus. Infelizmente, nossas igrejas muitas vezes acabam sendo tribunais de julgamento e condenação e não lugar de amor e acolhimento para nossos jovens.
Eles também se perguntam “Qual é o meu lugar?”. Essa pergunta está relacionada à questão do pertencimento e à minha conexão com os outros. Sentimos que pertencemos a determinado grupo quando estamos com aqueles que verdadeiramente nos conhecem, nos entendem e nos aceitam pelo que somos. Como hoje sofremos com a solidão e a falta de conexão, pertencer é uma grande necessidade de nossos dias. Adolescentes estão sedentos por serem ouvidos, conhecidos e aceitos por quem eles são.
A comunidade da fé falha em não ensinar que fomos criados para estarmos em comunhão com Deus e com os outros, através de Jesus. Não precisamos conseguir o amor, a aceitação ou o nosso lugar no corpo de Cristo, na família de Deus (Ef 2:19). Nós pertencemos a Deus uns aos outros. Somos parte da família de Deus e não estamos sozinhos. Somos filhos amados por quem o coração de Deus bate.
Os adolescentes precisam saber que não importa se eles estão usando as roupas certas ou dizendo as coisas certas. Eles pertencem a Deus, são amados por Deus, Deus está com eles e eles estão na Família de Deus.
A terceira grande questão da adolescência é “Que diferença eu posso fazer?” e está ligada ao propósito de vida, à nossa contribuição para o mundo.
Adolescentes buscam mais clareza dos seus propósitos, assim como da identidade e pertencimento. Hoje eles tem inúmeras opções para tudo e também para os propósitos, o que dificulta ainda mais esse processo.
A comunidade da fé pode ajudar nesse processo mostrando que nossas vidas tem um propósito quando somos parte da grande estória de Deus. Nosso papel é ajudá-los a descobrir e viver a participação deles na estória de Deus. Precisamos incentivá-los a irem além de suas próprias vidas e refletir sobre o mundo ao seu redor. A vida do cristão tem como objetivo fazer diferença no mundo ao nosso redor.
Adolescentes precisam de adultos que possam caminhar com eles na busca por essas respostas. A comunidade da fé está em uma posição estratégica para essa grande missão.
(1) No livro, 3 Big Questions That Change Every Teenager (2021), Kara Powell e Brad Griffin trazem uma abordagem muito atual das 3 principais questões da adolescência, com base em uma recente pesquisa do Fuller Youth Institute com cerca de 2200 adolescentes cristãos nos Estados Unidos.