Somente Cristo

Luiz Fernando dos Santos
9/10/2019
Devocional

“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3.20).

O mês de outubro traz consigo as comemorações da Reforma Protestante, quinhentos e dois anos daqueles eventos iniciados em trinta e um de outubro de mil quinhentos e dezessete. A reforma ganhou corpo e forma sob a irrenunciável afirmação e confissão de suas doutrinas cardeais: ‘Somente as Escrituras’; ‘Somente a Fé’; ‘Somente a Graça’ e ‘Somente Cristo’. Mais tarde acrescentou-se o ‘Somente a Deus Glória’.

Dessas doutrinas, talvez a que mais mereça atenção e recuperação em pleno século vinte e um, seja a doutrina acerca da suficiência e exclusividade de Cristo para a salvação. Dificilmente você encontrará uma igreja que negue a realidade divina da autoridade da Bíblia. Também não há igreja que não apele para a fé como instrumento (em alguns casos a causa), das bênçãos de Deus.

E, ainda que o esforço humano seja sobejamente exaltado na maioria das comunidades cristãs, ainda sim ninguém ousa dispensar o favor imerecido do Senhor, que chamamos de Graça. Entretanto, por mais difícil de explicar e incrível que pareça, a doutrina e o ensino sobre Cristo, sua pessoa, Evangelho, é coisa rara, raríssima de ser encontrado. Cristo já não é apresentado como suficiente em muitos ambientes. À sua pessoa e obra são acrescidas práticas que vão desde a entrega dos dízimos e ofertas até a prática de fogueiras santas e sabonetes ungidos para produzir bênção e salvação. Cristo já não é tão exclusivo, único, concorre contra o carisma ou a autoridade de muitos outros ‘ungidos’ do Senhor que se apresentam como verdadeiros porta-vozes da vontade do Pai.

Vejam, não estou falando das práticas da igreja católica ou de religiões não cristãs, Cristo anda sumido de muitas igrejas chamadas evangélicas. Faríamos bem se, aproveitando os dias da Reforma Protestante, recuperássemos em nossas liturgias públicas, em nossa devocional pessoal, em nosso culto doméstico a centralidade de Cristo, a totalidade de nossa vida focada em sua pessoa, no seu Evangelho e na imitação de sua conduta.

Faríamos bem, se como Paulo, ‘nada quiséssemos saber, a não ser Cristo, e este crucificado’ (1Co 2.2). Nossas igrejas precisam redescobrir o amor por Jesus Cristo, precisam encantar-se outra vez como nas palavras do salmista: “Tu és o mais formoso dos filhos dos homens; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre” (Sl 45.2).

Nossas comunidades precisam voltar a ser tanto ‘cristocêntricas’ quanto ‘cristológicas’. Isto significa que precisamos centrar tudo em Cristo, nossa forma de orar, nossos cânticos, o motivo da nossa adoração e a mensagem central da nossa pregação. Precisamos voltar ao ensino das verdades bíblicas sobre a pessoa de Cristo, sua deidade, sua pessoa bendita, suas naturezas perfeitamente unidas (divindade e humanidade), sua concepção e nascimento virginais, os estados de sua humilhação voluntária e passiva, sua santidade indefectível, sua retidão e justiça perfeitíssimas, sua vontade libérrima e ao mesmo tempo subordinada ao Pai. Por fim, sua cruz, morte, ressurreição, ascensão e volta gloriosa.

Temos uma urgência quase escandalosa em conhecer mais perfeitamente o ser e a pessoa de nosso bendito Salvador. É como se precisássemos redescobrir aquele que mais se importa com a nossa pobre vida, que mais nos ama apesar de sermos indignos e ingratos para com esse amor dedicado. É como se precisássemos conhecer quem nos é mais íntimo a nós do que nós mesmos. Sem Cristo nossas orações são vãs, nossa fé vazia, nossa esperança mentirosa, nossa vida absurda e nossa morte a causa do nosso desespero. Voltemos a Cristo, somente.