O Privilégio de Servir

Luiz Fernando dos Santos
2/10/2020
Devocional

“Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu; pois em breve, muito em breve ‘Aquele que vem virá, e não demorará. Mas o meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele’. Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que creem e são salvos ” (Hb 10.36-39).

Muitas vezes ensinamos e entendemos a participação ativa na Casa de Deus em termos de deveres e responsabilidades assumidas desde o dia do nosso batismo e profissão de fé. De fato, a primeira tábua dos Mandamentos da Lei Moral fala em deveres exigidos da parte de Deus. O segundo mandamento fala exatamente de nossos deveres com o culto, seu conteúdo e natureza. Fala também de alguns outros importantes aspectos da vida em comunidade, a saber, o governo eclesiástico, a disciplina e a manutenção do ministério pastoral. Entretanto, às vezes falhamos em ensinar que participar na comunhão dos santos, entrar na presença de Deus, experimentar a realidade de sua presença entre os louvores do seu povo, chamá-lo intimamente de ‘papaizinho’ e cantar fazendo coro aos anjos é um privilégio. Um privilégio indescritível e um privilégio exclusivo que pertence por direito concedido somente os filhos, aos remidos pelo sangue do Cordeiro. Essa é uma verdade que deveremos ressaltar nesses dias de flexibilização, de retorno a uma certa normalidade na rotina da igreja, de retomada dos nossos trabalhos presenciais. Como eu escrevi em outras pastorais é possível que um número significativo dos nossos irmãos, por um certo tempo, não venha a sentir real falta deste privilégio. Será absolutamente comum encontrar irmãos desacostumados à rotina da vida espiritual em comunidade, que perderam, ainda que temporariamente, o jeito, o costume, o gosto em acordar domingo de manhã e participar com interesse e entusiasmo da escola dominical ou do culto . Terão, nesses dias de ausência forçada da comunidade de fé, experimentado e desenvolvido novos hábitos, quem sabe de uma demanda represada inclusive, e ocuparão as suas manhãs com outras atividades que, se não pecaminosas em si mesmo, podem vir a ser, caso quebrem o quarto mandamento, a observância do ‘Dia do Senhor’. E os que assim o fizerem que imagens bíblicas poderíamos usar para convencê-los de que não deveriam jamais abrir mão de seus privilégios? Considero que a citação a seguir é muito apropriada: “ Não haja nenhum imoral ou profano, como Esaú, que por uma única refeição vendeu os seus direitos de herança como filho mais velho. Como vocês sabem, posteriormente, quando quis herdar a bênção, foi rejeitado; e não teve como alterar a sua decisão, embora buscasse a bênção com lágrimas ” (Hebreus 12:16-17). O que fez Esaú? Trocou os seus direitos de primogenitura, o seu direito a participação em uma bênção especial por uma satisfação instantânea, por um gozo passageiro e uma felicidade fugaz. Abriu mão de seus privilégios de filho mais velho apenas para dar vazão à sua vontade e responder a uma demanda do aqui e agora. Esaú pode ser um triste paradigma para muitos nesses dias de retorno e flexibilização. Nesses dias de recomeço o que está em conta não são os nossos deveres, as nossas obrigações morais assumidas, mas o quanto valorizamos os nossos privilégios na Aliança, o quanto estimamos a nossa condição de filhos, o quanto a precisamos a companhia dos santos e dos anjos na presença de Deus. Também escrevi que será parte de nosso ministério de desenvolver empatia, compaixão e paciência amorosa para com os nossos irmãos que não se sentirem à vontade ou seguros para a participação. Também escrevi que cobranças moralistas e legalistas não resolvem o problema, antes o agrava, tendo em face já as muitas dores e privações desses dias. Contudo, não quer dizer que não devamos admoestar e exortar os irmãos para que não vendam por tão baixo preço os privilégios que lhes foram concedidos mediante o preciosíssimo sangue de Jesus. Uma boa palavra é essa aqui, também do livro de Hebreus: “ Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia ” (Hebreus 10:23-25). Gosto do ritmo de cada linha: “ apeguemo-nos com firmeza à esperança ”, isto significa, não abrir mão, nunca, das promessas. Qualquer outra esperança é mentirosa e qualquer que prometa vida fora de Cristo, no fim será infiel na promessa que fizer. Infiel, porque incapaz. “ Consideremo-nos uns aos outros ”, isto é, tendo em alta conta, apreço, preocupados de fato, exortar é demostrar amor. “ Não deixemos de nos reunir como igreja ”, não ocupemos o Dia do Senhor com qualquer atividade, que não essencial à vida, e que pode ser realizada em outro momento, que prejudique a nossa reunião como assembleia do Senhor.“ Mas encorajemo-nos uns aos outros ”, isto é, anime o seu irmão, exorte-o, desperte nele o desejo por Cristo e seu evangelho que pode estar adormecido ou embriagado. Não permita, por amor, aqueles que você ama, trocarem os seus privilégios por um prato de lentilhas, ainda que seja muito saboroso.