O mundo

Luiz Fernando dos Santos
14/1/2019
Hermenêutica

“ Eles não são do mundo, como eu também não sou ” (Jo 17.16)

O mundo é a totalidade da obra saída das mãos de Deus nos dias da criação. Deus abençoou a criação declarando ser boa cada realidade chamada ‘do nada’ a existência. Originalmente o mundo é bom e o motivo para o qual ele foi criado, nobre, expressar os maravilhosos e gloriosos atributos divinos e ser um lugar de delícias e regozijo para a mais exuberante criatura saída das mãos de Deus, o homem .

Entretanto, por causa da queda de Adão toda a criação sofreu os efeitos da entrada do pecado e o mundo se tornou um lugar manchado, contaminado pelo mal, hostil ao homem e o local onde as forças ‘anti-Deus’ se estruturam e conspiram contra o Reino de Deus e seu plano de redenção para o homem alienado. O mal presente e atuante no mundo se estrutura através das falsas religiões, filosofias ateias, niilistas e racionalistas, forças de governo, ideologias políticas, sistemas econômicos, educacionais, da arte, cultura e etc. Essas estruturas se tornam conspiradoras quando reivindicam plena autonomia humana para formular os padrões de justiça, moralidade, ética, estética e felicidade pelos quais desejam viver.

Então, o mundo se torna um problema e um desafio para a igreja quando essas estruturas e a mentalidade que nelas surge e a partir delas se espalha pela sociedade, também passa a influenciar o modo de ser e de agir dos discípulos de Jesus Cristo. Foi o próprio Jesus quem nos deixou no mundo:

“ Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno ” (Jo 17.15 ).

E porque Ele nos deixou aqui? Porque o seu plano de redenção está em plena atividade no mundo por meio do seu povo. Os discípulos de Jesus que se reúnem em Igreja são dentro do mundo caído a parte da criação restaurada, uma parte daquilo que será o Reino Definitivo que agora se manifesta como que ‘sacramentalmente’ por meio da igreja . Isto significa que fomos deixados aqui para encenar diante da humanidade a vida que Ele deseja que os homens vivam sem as influências corruptoras da maneira de ser e agir conspiratórios do mundo. Os discípulos de Cristo devem viver como sal, luz e fermento a partir das engrenagens estruturantes do mundo. Contra as falsas religiões devem apresentar a beleza cativante do Evangelho de Cristo em forma de vida fraterna em comunidade, relações marcadas pelo amor, com culto racional, santo e exclusivo prestado a Deus, cujo pressuposto inegociável é a reivindicação da justiça e da equidade nas relações humanas. Para as filosofias declarar a submissão à mente de Cristo e o conhecimento dele que é a verdade que dá sentido a vida.

No que diz respeito ao governo, política e economia submeter essas coisas ao Senhorio de Cristo que inverte a lógica idolátrica do dinheiro e do poder como fins em si mesmo, em serviço, promoção da justiça, dignidade da pessoa humana e etc. Os cristãos devem cooperar efetivamente para que haja uma educação não só de qualidade e excelência, mas que transmita os princípios inegociáveis e os valores morais absolutos do Reino de Deus. Não se trata apenas de formar cidadãos, intelectuais ou técnicos capazes. É preciso educar para o desenvolvimento humano cujo padrão é a humanidade perfeita de Cristo, donde fluem toda beleza, bondade verdade, fins originais da arte, por exemplo. Entretanto, o desafio permanece, o de sermos ensinados em toda a justiça para cumprir a nossa missão no mundo.

Permanece um desafio, porque muitos cristãos vivem acriticamente à moda do mundo, com a mentalidade do mundo e se sentem confortáveis com isso. Pensam que é possível ter um coração transformado sem que haja uma mudança na mente, na psique, no estilo de vida. A isso, damos o nome de mundanismo, discípulos que não se distinguem do mundo pela maneira de ser, agir, julgar e avaliar a realidade. Cristãos que buscam a razão para a sua felicidade e se regozijam nas mesmas coisas que o mundo tem a oferecer ao que não crê.

Nosso maior desafio como igreja é a transformação espiritual de nossa mente, isto é, não é tanto sair do mundo, mas muito mais, tirar o mundo de nós.