A disciplina da meditação

Luiz Fernando dos Santos
26/2/2021
Devocional
Espiritualidade

“Meditarei nos teus preceitos e darei atenção às tuas veredas” (Sl 119.15)


Já falei aqui das disciplinas da Lectio Divina e do Culto Pessoal. Em ambas está envolvida a
disciplina espiritual da meditação. Na Lectio, é o passo que segue à leitura. No culto pessoal, é
a necessidade de pensar nas motivações da adoração. Contudo, como disciplina espiritual em
si mesma, a meditação é ocasião maravilhosa para elevar o pensamento, os afetos e o
coração à presença de Deus.

O primeiro passo de toda meditação é a consideração sobre alguma coisa muito específica.
Se há divagação, muitas ideias peregrinas, muitas imagens formadas na mente, a meditação
fica prejudicada, se é que chega a atingir essa condição. Por consideração entendemos a fixação
de uma realidade espiritual que desejamos preencha a mente, aqueça o coração e dê gozo
e satisfação a alma.

O exercício desta disciplina não dispensa, ao menos, alguns aspectos muito importantes da Bíblia
e até da Teologia. Toda ocasião de meditação proveitosa ao crente, começa sempre por considerar
‘o que Deus é’. O que Deus é como revelado nas Escrituras e como a Teologia organiza esta mesma
revelação. Aqui, há grande bênção considerar, vagarosamente, sem pressa, os nomes de Deus
e o que eles significam. Isto é, a ‘Teontologia’ é o melhor meio para dar início à pratica da meditação.
Pensar em cada bênção, cada promessa dos significados dos ‘Santos Nomes’ nos leva a
experimentar uma maior familiaridade, intimidade e desejo do Eterno. Depois dos nomes,
considerar os atributos divinos e o que eles significam e como eles se articulam com a criação,
a história da redenção e a nossa relação com Deus. Pensar, apenas por analogia, abstração o
que significam a imensidão, a eternidade, a espiritualidade, a bondade, a santidade do Senhor,
provoca em nós um senso de gravidade, reverência, dependência e adoração.

Os puritanos diziam que meditar é apreciar a Cristo. Não há verdade mais excelente! De fato,
pensar em Cristo, em sua excelsa pessoa, em sua geração eterna, em sua encarnação e nascimento
virginais, em seu estado de humilhação e em sua forma de escravo, em seus milagres, em seus
maravilhosos ensinamentos, em sua relação marcada pela humildade e pelo amor com os
pecadores, enchem o nosso coração de gratidão, de amor e de anelos pelo Salvador. Meditar
em Cristo necessariamente significa meditar em sua aviltante humilhação pelas mãos dos
ímpios, pensar em sua dolorosíssima ‘via crucis’ em sua paixão redentora e sobretudo na
ignomínia da cruz. Nada nos sensibiliza, emociona e quebranta mais do que pensar em Cristo
pendurado no madeiro em nosso favor e em nosso lugar. Considerar na dimensão vicária de
cada prego, de cada espinho, de cada laceração em sua carne, contemplar perplexos aquela
sede em agonia deve levar-nos ao ódio pelo pecado, ao desespero de alma por saber que a
culpa nos cabia, mas Ele foi o punido e isso deve provocar em nós prostração adorante.
Rendição. Meditar em Cristo é considerar a realidade gloriosa de sua ressurreição e pensar em
sua ascensão como sendo já a nossa vitória, o nosso destino juntamente com ele. E isso deve
fomentar em nós uma esperança teimosa e o pleno conforto em meio as adversidades desta
vida. Quando pensarmos em Cristo devemos considerar a sua volta iminente, o julgamento
que ele presidirá e o Reino que será estabelecido. Apreciar a volta do Senhor nos ajuda a
vencer os dias mais difíceis da nossa existência, superar o pavor da morte e a sorrir para o
futuro.

O Espírito Santo, claro, não só merece a nossa consideração, mas é fundamental para o
Cristão apreciar a Terceira Bendita Pessoa da Trindade, sua atuação e presença na criação, na
revelação da mente de Deus, em distribuir dons, talentos e habilidades aos homens, por
inspirar, preservar e tradicionar as Escrituras, por preparar o mundo para a vinda de Cristo, por
atuar na vida do Messias da concepção à Ascensão e por formar um povo aprazível para o
Senhor. Pensar reverentemente no Espírito é considerar a sua obra em nossa salvação pessoal,
da Eleição à glorificação e em sua habitação permanente em nós, conduzindo, repreendendo,
iluminando e preservando. Meditar na pessoa do Espírito Santo nos enche de segurança,
conforto, convicção e orientação para viver em verdade, amor e santidade. Numa palavra,
meditar é considerar nos aspectos mais essenciais à nossa salvação e buscar gozo, segurança
e mais anelo.

Podemos ainda e devemos meditar nas Escrituras, como faz o Salmo 119, por
exemplo. Meditar no que é a igreja e a sua missão, meditar nos sacramentos e o que eles
significam. O importante é que de alguma maneira, meditar é observar o que segue:
“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto,
tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de
excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Filipenses 4.8).